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MUNDO
_Estamos vendo nas últimas semanas uma explosão de protestos pela Europa, bem como governos enfrentando dificuldades para vender seus títulos soberanos e algumas nações quase em risco de calote. Este tema parece complexo e temos a tendência de culpar os bancos ou o sistema financeiro por todas as crises do sistema capitalista. Entretanto, o tema é mais simples do que aparenta e, pelo menos nesta crise, os bancos são apenas uma parte dos culpados.
A crise fica mais fácil de ser compreendida com um exemplo básico de uma pessoa, que chamaremos de José e será colocado entre parênteses o paralelo com a crise atual. José trabalha e tem uma renda mensal de R$ 5.000,00. Porém, ele e sua família gastam R$ 5.500,00 por mês, além de uma ajuda mensal aos parentes no valor de R$ 2.500,00 por mês, totalizando um gasto mensal de R$ 8.000,00 (descontrole fiscal). Como José tem um bom crédito na praça, consegue facilmente empréstimos bancários no valor de R$ 3.000,00 mensais para cobrir o rombo nas suas despesas. Esta é uma boa alternativa para manter seu padrão de vida e manter seus parentes satisfeitos com a renda transferida mensalmente a eles (aumento da dívida). Entretanto, alguns anos atrás, diversas outras pessoas resolveram não pagar suas dívidas e, embora José não tivesse nada a ver diretamente com o fato, os bancos passaram a ser mais cautelosos na hora de fornecer créditos para todo o sistema financeiro (crise de 2008). Agora, imaginem que José, depois de tanto pegar dinheiro emprestado no banco, tenha uma dívida superior ao que ele consegue produzir em um ano de trabalho (PIB), algo em torno de R$ 70.000,00 para quem fatura apenas R$ 5.000,00. Será que os bancos passarão a olhar para José como possível cliente com risco de calote? Provavelmente sim e, quando o banco percebe isto, a taxa de juros aumenta, pois como há um risco maior de não pagamento, o juro é mais alto para compensar eventual calote, e também o prazo para pagamento é mais curto, visto que não há garantia de pagamento no longo prazo (aumento da taxa de juros da rolagem dos títulos soberanos, que são os títulos que os Estados vendem aos bancos para captar dinheiro). Neste caso, José tem duas alternativas, cortar gastos e/ou aumentar suas receitas. No caso do corte de gastos deve ser feito em duas frentes. A primeira é reduzindo seu padrão de vida, gastando menos, por exemplo, com sua educação, saúde e segurança (corte de gastos públicos). Já a segunda é reduzindo o valor pago aos parentes (redução de salários de funcionalismo público, redução de aposentadorias e aumento da idade para se aposentar). Agora, analisando friamente, será que José, sua família e seus parentes que são sustentados por ele ficarão contentes com estas medidas ou protestarão contra este corte de gastos, dando a alternativa de simplesmente dar calote nos bancos como medida mais apropriada? É exatamente este o motivo pelos protestos em toda a Europa, ou seja, protestos econômicos e não políticos. Já em relação a receitas, deve trabalhar mais e arrecadar mais dinheiro para cobrir seus gastos. No caso dos Estados, isso ocorre em duas frentes, aumento de tributos cobrados da população e incentivo à atividade econômica. Mas, como o mercado interno está parado, a saída seria a exportação, sendo que aqui, a questão é outra: exportar para quem? A China, o motor da economia mundial é exportadora e não importadora, a Europa e EUA em crise, então, podemos ver um mercado excelente para as exportações: Brasil e demais emergentes. Em tempo, não acho os bancos santos ou livre de qualquer parcela de culpa na crise. Entretanto, a maior culpa dos bancos foi de não ter cortado o crédito para os países perdulários antes, esperando até o último minuto para isto. Texto com colaboração de Miguel Amaral. Jorge Eduardo Scarpin
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Nas últimas semanas estamos sendo bombardeados com notícias sobre o agravamento da crise europeia e norte-americana. Ambas as crises possuem a mesma razão: alto endividamento do setor público e, em alguns países, do setor privado também. O motivo disto é simples e fácil de entender: os governos gastam mais do que arrecadam. A lógica para os governos é a mesma das empresas e das pessoas físicas: se gastamos mais do que recebemos, fazemos dívida e, se não conseguimos pagar a dívida, precisamos fazer uma nova dívida para pagar a antiga, fazendo com que fique uma bola de neve. O grande problema é que a dívida ficou grande demais e está chegando a hora de pagar a conta.
Quando estamos nesta situação, só há três possibilidades para continuarmos honrando nossos pagamentos e não declararmos moratória, ou seja, deixarmos de pagar nossas dívidas: aumentando as receitas, diminuindo os gastos ou conseguindo mais crédito. As soluções dos países desenvolvidos estão basicamente nas duas últimas. Os Estados Unidos estão tentando uma solução mista, aumentando o limite de endividamento, ou seja, conseguindo mais crédito e também com um amplo pacote de contenção de gastos públicos, principalmente de programas sociais e orçamentos das forças armadas. Por sua vez, a Europa está sendo mais radical. Estão propondo cortes fantásticos nos gastos públicos, por meio de diminuição de gastos com funcionalismo público e também por corte em programas sociais. Entretanto, o que o mercado analisa é que estas decisões podem se tornar um grande tiro no pé, o que reforça a expectativa de que a crise e a recessão nestes países serão de longo prazo, alguns falando de três, outros chegando até a falar em dez anos de crise e/ou baixo crescimento. E por que isto pode ser um grande tiro no pé? A razão, por mais estranha que possa parecer, é simples: quando o governo gasta dinheiro, principalmente com salários e programas sociais, isto tem o efeito de geração de renda para a população e, quanto mais renda para a população, mais as pessoas gastam e, quanto mais se gasta, maior a arrecadação de tributos por parte do Estado, conseguindo, assim, aumentar a sua receita para equilibrar o caixa. O exemplo brasileiro do Bolsa Família é bem explicativo deste fenômeno. Então, surge a questão: por que então os governos não gastam mais dinheiro ao invés de economizar? Por uma razão simples: não há mais dinheiro. Os países gastaram rios de dinheiro para salvar o sistema financeiro na crise de 2008 e este dinheiro não foi suficiente para impulsionar a economia. Por esta razão, os governos dos países europeus mais relevantes (Alemanha e França), bem como a oposição radical nos EUA simplesmente fecharam as torneiras para aumentar o gasto público. Onde isto vai nos levar? Sinceramente, não me arrisco a fazer previsões neste momento, mas vejo um cenário não muito otimista pela frente, visto que uma crise lá fora, fatalmente vai impactar nosso país, mesmo que de maneira menos intensa. Jorge Eduardo Scarpin O Oriente Médio está em plena revolução. Primeiro a Tunísia, passando por passeatas em alguns países do Norte da África e culminando no Egito, um dos mais importantes, senão o mais importante país do mundo árabe.
Uma das razões do sucesso dos opositores no Egito está no acesso cada vez mais fácil e disseminado à informação e da capacidade de mobilização das redes sociais. Entretanto, o foco deste artigo é outro. Estará o Egito apto para a democracia? Esta pergunta me vem à mente quando vejo as principais potências mundiais e Israel se omitindo na democratização do Egito. Falam em transição de poder, mais liberdade ao povo egípcio, mas ainda não vi nenhuma manifestação contundente sobre eleições livres, democráticas e justas para o país. Pelo contrário, o que vejo são manifestações dizendo que o Egito não estaria pronto para a democracia, como expressou Dan Gillerman, embaixador de Israel na ONU entre 2002 e 2008. Isto nos faz refletir e questionar: o ocidente está pronto para uma democracia no mundo árabe? Por mais estranha e paradoxal que a pergunta seja, afinal, os Estados Unidos, quando da invasão ao Iraque, se propuseram a levar democracia ao povo árabe, para substituir os ditadores tirânicos por representantes eleitos pelo povo. Mas, até que ponto isto é verdade? Para compreender o problema, vamos analisar três fatores recentes em ordem cronológica: Faixa de Gaza, Irã e Egito. Depois de amplo debate e inédito acordo, eleições livres na Palestina, compreendendo Cisjordânia e Faixa de Gaza, segundo diversas organizações internacionais, eleições legítimas e sem fraudes que pudessem comprometer seu resultado final. Na Cisjordânia, tudo ocorreu como planejado, com Mahmoud Abbas sendo vencedor. Porém, houve um problema: na Faixa de Gaza outro candidato venceu, o partido Hammas, Organização terrorista para uns e movimento de resistência para outros. O que foi feito? Procurou-se saber a razão pela qual o povo palestino elegeu um movimento de resistência armado e não um partido moderado para o poder? Procurou-se uma via para colocar este movimento legítimo na mesa de debates, por mais difícil que possa ser? Não, simplesmente o resultado não foi reconhecido e até hoje a região sofre um desumano bloqueio econômico por parte de Israel. O que o mundo árabe pode concluir com isto? Simples: querem que seja democrático, desde que eleja um presidente pró-ocidente. Isto lembra a máxima de Henry Ford na qual poder-se-ia comprar qualquer cor de Ford, desde que fosse preto. Será isto o melhor para a região ou será a volta da dominação ocidental disfarçada de democracia? Segunda eleição, Irã, 2009. Houve a suspeita de que o atual presidente Mahmoud Ahmadinejad teria sido eleito de maneira fraudulenta, com pesados protestos no país e, infelizmente, um alto número de mortos e feridos. A comunidade internacional, em peso, criticou as eleições e pediu novos pleitos. Neste caso, pode-se concluir que o Irã está pronto para a democracia, por isso, novas eleições seriam fundamentais. Entretanto, eleições fraudulentas também sempre existiram no Egito e em outros países árabes aliados, e a comunidade internacional nunca exigiu novas eleições. Será que o fato de um ser opositor aos Estados Unidos, e outro ser aliado, influenciou nesta decisão? Finalmente, Egito, 2011. Ditador governando o país por três décadas, povo na rua para destituí-lo do poder. O mundo, aparentemente, está com receio de tratar do tema de eleições livres, falando de uma transição de poder no seu sentido mais amplo. O pensamento por trás disto traz um argumento interessante: e se um movimento radical “tomar” o poder pelas eleições livres? Será que vale a pena um governo democrático contra os interesses ocidentais ao invés de um governo ditatorial amigo? E como ficará o Egito se a Irmandade Muçulmana conseguir chegar ao poder? O Estado seria governado por um movimento radical e terrorista e o Canal de Suez seria fechado e Israel bombardeado? Isto tudo me faz refletir sobre algumas perguntas: A Irmandade Muçulmana é realmente um movimento terrorista e radical? Haveria outros atores políticos moderados no Egito? O que o povo egípcio quer? Será que seria capaz de decidir o seu futuro? A sociedade egípcia, uma das mais progressistas do mundo árabe, vai colocar no poder um novo Taliban? Adoraria a chegada do dia em que o povo dos países árabes pudesse definir seu destino, como, a duras penas, conseguimos hoje no Brasil. Porém, tenho receio de que este dia ainda demore um bom tempo para chegar. Jorge Eduardo Scarpin |